11 de jan. de 2014

Realmente somos livres?

Rémi Brague, Prêmio Ratzinger 2012 de teologia, questiona definitivamente a existência de um livre arbítrio autônomo e soberano
“Fazer tudo o que se quer é uma grande tarefa”, brinca o professor, referindo-se aos que chama de “imbecis” por conservarem a crença barroca na completa liberdade da vontade.
Lembrando vários séculos da filosofia e espiritualidade ocidentais, Rémi Brague, Prêmio Ratzinger 2012 de teologia, conversa com a Aleteia e questiona definitivamente a existência de um livre arbítrio autônomo e soberano. E lhe vem à mente o exemplo de São Paulo, que, recorda, não consegue fazer o bem que conhece e aprova, mas, pelo contrário, persiste em fazer o mal que o repugna.
Neste sentido, o Apóstolo das Nações faz ecoar o pensamento dos poetas pagãos, sobretudo de Ovídio. O que São Paulo descreve é “a experiência fundamental da fraqueza da vontade”, afirma Brague.
À pergunta “qual é a contribuição do cristianismo para o amplo problema apresentado pelo livre arbítrio?”, Brague considera que o cristianismo tem o mérito de ter admitido corajosamente que nós, na verdade, não fazemos tudo o que queremos.
É assim que ele responde aos “imbecis” que pretendem fazer tudo o que querem: “Nós nos iludimos quando dizemos: ‘Faço tudo o que quero’. Na maior parte dos casos, somos passivos. Em outras palavras, queremos aquilo que querem que queiramos. Esse ‘aquilo’ pode ser uma infinidade de coisas: a publicidade, a época, a educação recebida etc.”.
Ainda assim, a causa do livre arbítrio não está perdida, segundo o vencedor do prêmio da Fundação Ratzinger.
Há uma alternativa a esta predestinação, e isso significa que, para que o livre arbítrio exista, ele deve ser libertado. E esta é a força do cristianismo: ele nos leva a reconhecer que precisamos de ajuda para ser livres. A esta ajuda damos o nome de Graça e esta é precisamente a experiência humana fundamental.
Rèmi Brague recorda a expressão luterana de “servo arbítrio” (esclarecendo que não compartilha a concepção luterana sobre o livre arbítrio), que estabelece a dependência da vontade humana frente à Graça de Deus, único caminho rumo à verdadeira liberdade.
A liberdade, por conseguinte, é um dom que recebemos de Deus. Ela não é autônoma. E é precisamente isso que o filósofo quer nos dizer quando lembra que o nosso livre arbítrio precisa ser libertado para ser exercido.

Fonte/Autor: http://www.aleteia.org/pt/estilo-de-vida/artigo/realmente-somos-livres-5227607230513152