Em exortação sobre o amor, papa Francisco faz defesa da tolerância
O papa Francisco
publica na manhã desta sexta-feira (8) um dos documentos mais importantes
produzidos desde que se tornou o bispo de Roma, em 2013.
A exortação
apostólica "Amoris laetitia", que significa "a alegria do
amor", será apresentada após quase dois anos de trabalho e da realização
de dois Sínodos de Bispos para discutir temas ligados ao amor e à família.
Durante meses, os
debates sobre o documento geraram polêmicas por ele tratar de assuntos antes
considerados tabu pela Igreja. A expectativa era a de que ele tratasse de
questões como o casamento entre homossexuais e a comunhão de divorciados que
voltaram a se casar.
Segundo fontes que
tiveram acesso ao documento antes da sua publicação, marcada para às 7h, a
exortação evita romper com as posições tradicionais da Igreja e mantém as
determinações tradicionais do Vaticano.
Ela dá, porém, um
passo importante no sentido de aceitar e integrar as pessoas que antes poderiam
acabar excluídas.
A ideia central,
afirmam essas fontes, é de acolhimento e tolerância, e de que o amor é mais
importante do que a imposição de regras.
ACEITAÇÃO
O documento não muda
a proibição de matrimônio entre homossexuais, por exemplo. Ele também indica a
continuação da interdição à comunhão de pessoas que se divorciaram e voltaram a
se casar. Mas defende que essas pessoas devem ser integradas e aceitas entre os
católicos, em vez de marginalizadas.
Pessoas que leram a
exortação antecipadamente dizem ainda que quase nada vai mudar nas regras da
Igreja, mas que a ênfase deixa de ser o cumprimento dessas regras para ser a
defesa do amor e a educação afetiva.
O documento defende
que as pessoas tenham seus casos considerados individualmente e que as coisas
deixem de ser tratadas de forma generalista. No lugar de romper com a tradição,
o documente pede que as regras da Igreja não sejam postas acima das pessoas,
pois elas só valem na medida em que ajudam as pessoas a serem capazes de amar,
afirmaram as fontes.
Em uma análise prévia
da exortação, o pesquisador norte-americano Michael Sean Winters, da
Universidade Católica da América, explicou que, mesmo sem mudar doutrinas da
Igreja, a exortação é um convite à humildade.
Com ela, o papa
defende que a Igreja ajude as pessoas a descobrirem como Deus atua em suas
próprias vidas.
Em um comunicado
divulgado pelo Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP, Dom João Carlos Petrini, bispo de
Camaçari-BA, explicou que o documento traz mudanças em relação à atitude e à
linguagem usadas pela Igreja. Petrini participou do Sínodo que discutiu a
exortação em 2015. Segundo ele, os bispos viram com entusiasmo "as grandes
novidades apresentadas".
Um acadêmico próximo
da Igreja Católica, e que pediu para não ser identificado, disse à Folha que é
de se esperar que o papa Francisco seja criticado tanto por progressistas
quanto por conservadores pela exortação sobre a alegria do amor.
Por um lado, ela frustra
quem têm apego às regras da Igreja, e por outro decepciona quem quer mudanças
nas doutrinas. No geral, ele avalia que o ponto mais importante é que a
exortação vai contra o radicalismo, recomendando a aceitação de todos e
conclamando a comunidade cristã a ser tolerante.